Hoje, o mundo está em risco. O surto do novo coronavírus que está a percorrer o planeta traz consigo um conjunto de consequências que vão muito além do espectro da saúde pública, da sociedade e da política nacional e internacional. Esta nova pandemia é também um grave bloqueador da nossa economia: escolas fechadas, voos cancelados, fronteiras a serem encerradas e empresas a cessar temporariamente as suas operações ou, quando possível, a adotar medidas alternativas que sustentem a sua atividade, como o regime de teletrabalho.
O facto é que o cenário atual está a gerar, inevitavelmente, alguma apreensão junto do setor segurador, sobretudo porque muitas empresas - tanto em Portugal quanto no resto do mundo - não estão totalmente capacitadas para responder aos riscos que uma pandemia pode trazer ao seu negócio. Falamos de riscos como a interrupção das atividades, falhas nas cadeias de abastecimento ou até o absentismo do capital humano - atualmente três dos principais riscos apontados pelas empresas no Global Risk Management Survey de 2019 da Aon, onde ocupam a 4ª, 20ª e 32ª posições, respetivamente - entre outros. Esta falta ou insuficiente resiliência, aliada ao delicado contexto que atravessamos, pode vir, não só, a comprometer a sustentabilidade das seguradoras - também elas abaladas pelo impacto económico desta pandemia - mas também a sua capacidade de resposta às empresas que, por sua vez e em diversas circunstâncias, dependem dos seus contratos de seguro, na medida em que estes foram integrados nas suas estratégias de gestão de riscos.
Precisamente reforçando a seriedade e complexidade deste problema, alguns especialistas têm defendido que o despoletar de crises de saúde à escala internacional será cada vez mais frequente - muito devido ao aumento das temperaturas terrestres causado pelas alterações climáticas - o que irá trazer enormes desafios económicos um pouco por todo o mundo.
Perante este quadro, é preciso refletir sobre o papel que o setor segurador pode vir a ter num futuro cada vez mais volátil.
Acredito, por um lado, que a atual pandemia será o ponto de partida para que as empresas do setor possam repensar as soluções de seguro disponibilizadas aos seus clientes corporativos, uma vez que vai ser necessário, a médio-longo prazo, alargar a sua proteção à luz de riscos emergentes - como o que estamos a viver e outros como o cibercrime, as alterações climáticas, ou a escalada de tensões económicas e políticas - e ao mesmo tempo salvaguardar a continuidade do setor. Por outro lado, o setor segurador terá aqui de assumir um papel ativo na construção da resiliência das empresas, ao ajudá-las a criar estratégias de gestão de risco que permitam mitigar os danos associados aos riscos a que estão sujeitas, por forma a reduzir os seus custos e manter a sua estrutura o mais estável possível.
O tempo urge: quanto mais cedo começarmos este trabalho, melhores resultados iremos certamente obter.
Anabela Araújo
Chief Broking Officer e Claims Director da Aon Portugal
Fonte: Jornal Económico, edição de 27-03-2020